Missão Lance Ventoux

A história é contada por recortes, sejam eles escritos ou visuais. Foi com essa inspiração que localizei paisagens eternizadas de cartões postais antigos da região, abrindo uma reflexão da ocupação homem e espaço e sua transformação no tempo. Essa pesquisa se chama "observatório da paisagem", feita com o ato de caminhar, e se concentrou nas cidades de Taulignan, Rousset-les-Vignes e arredores.

As fotografias do trabalho trazem paisagens que carregam os vestígios imperdoáveis da passagem do tempo. São fissuras que nascem do chão e crescem pelas paredes, assim como plantas que tomam prédios inteiros e camadas de pintura descascadas que entregam a idade das construções. São as camadas do tempo, como as camadas de fotografias sobrepostas, cada uma registrada no seu tempo. Se não fossem alguns letreiros modernos ou os automóveis chamaríamos de antiga a atual época. São paisagens silenciosas de tempo alongado, assim como as sombras que avançam os caminhos, como se quisessem esconder uma parte da história que ali passou. Cada ruela esconde os olhos escondidos de seus poucos residentes, como se a qualquer momento pudessem aparecer em suas janelas ou se assumirem como sombras por detrás das cortinas. Imaginários são instigados. Cada objeto, ou cada recorte, traz uma versão diferente da história a ser contada. São os observadores do tempo, criadores de cartões postais.

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O trabalho aqui apresentado é resultado da residência artística "Mudança de biótopo e outras perspectivas", ocorrida em 2018 na região da Provence (França) sob direção artística de Pierre Devin e participações de Fabiana Figueiredo e Bernard Plossu. As obras foram selecionadas para compor a Missão Lance Ventoux, que tem por objetivo a criação de um acervo de obras visuais e literárias que permitam uma reflexão sobre o território da Provence e suas mutações ao longo da história.

“A Missão Lance Ventoux tem como área de investigação a região da Provence, sul da França, e pretende questionar as mutações do território e da vida dos cidadãos. Longe de um inventário ilustrativo, o questionamento se orienta em direção aos pontos sensíveis. A luz, o espírito do lugar, o olhar, mais do que os conceitos, são produtores de formas, de senso e do sensível. A produção de obras originais ou inéditas, testemunhas do engajamento poético dos autores, contribuiu a uma reflexão sobre o mundo e sobre as formas que dele se apropriam. (…)”

Mais informações sobre o projeto MLV e ensaios de outros fotógrafos – www.territoiresensible.com

Algumas dessas obras fizeram parte da exposição "Inverno na Provence" ocorrida em São Paulo na Lombardi Galeria (Set/2018). Nela, dez fotógrafos apresentaram em imagens suas sensações sobre este território. Veja as fotos da exposição // FOTOS EXPOSIÇÃO